EM ALTA
Home

Quanto vale dez dividido por meio?

7 min de leitura
Foto do autor

Redação

11/05/2009 00:00
• Siga o Portal O Taboanense no Instagram, no Youtube e no X e fique por dentro de tudo que acontece na nossa cidade
Por Gilson Guimarães
 
Você consegue resolver uma equação do segundo grau? Você se lembra como resolver problemas que envolvem grandezas proporcionais usando a boa e velha regra de três simples? Exigindo um pouco menos: Você sabe resolver uma conta de dividir? Você se lembra da tabuada do sete, do oito, do nove?
 
Caso você responda sim às perguntas acima, parabéns: Você provavelmente domina o instrumental básico da álgebra e da aritmética, indispensável para a sobrevivência na sociedade digital do século XXI.
 
Agora eu pergunto: Qual formação matemática tem um jovem de dezessete, dezoito anos, recém saído do ensino médio? Será que ele manipula bem uma inequação logarítmica ou trigonométrica? Será que ele pelo menos sabe aplicar o Princípio fundamental da contagem? Para que não digam que eu estou exigindo muito: Será que ele sabe pelo menos resolver uma equação do primeiro grau? Será que um jovem taboanense, recém saído do ensino médio (portanto apto para ingressar no ensino superior) domina pelo menos as quatro operações básicas?
 
Optei por iniciar meu texto de forma provocativa, com perguntas que despertem em você, leitor, uma reflexão a respeito do tema que eu pretendo abordar nesse texto: A péssima, e inaceitável, formação matemática que nossos adolescentes recebem em nossas escolas.
 
Estudei em escolas públicas, como a grande maioria. Fundamentalmente, o que eu aprendi sobre a matemática nesse período é que ela é extremamente complicada e enfadonha, acessível apenas para um pequeno grupo de gênios chatos. Como impus para mim mesmo a meta de estudar em uma universidade pública, tive que aprender sozinho os conceitos não aprendidos na escola, exigidos no temidos e concorridos vestibulares.
 
Aprendi, estudando sozinho, que a matemática, apesar de difícil, é lúdica, divertida, não tem nada de chata e séria como defendem algumas pessoas. Aprendi que o ser humano tem prazer em lidar com situações que desafiem seu raciocínio (como em jogos de RPG ou sudoku), de forma que a aversão à matemática não tem justificativa. Hoje estudo Economia em uma universidade pública e aprendi, acima de tudo, que a matemática fornece ferramentas fantásticas para analisar e entender o mundo em que vivemos.
 
Ainda me espanta ir a um comércio qualquer e perceber que um jovem atendente precisa recorrer à calculadora para fazer operações extremamente simples, uma adição ou uma subtração que não exigiria um grande esforço mental para ser calculada de cabeça. Luiz Barco, na época em que escrevia deliciosos artigos para a Superinteressante, disse: “(…) há menos de quatro séculos a única bagagem que o homem de cultura média dispunha para calcular eram seus dedos”. Se atualmente não tivéssemos  calculadoras sempre tão acessíveis, acredito que veríamos com bastante freqüência marmanjos usando os dedos quando precisassem fazem cálculos básicos.
Num dia desses, resolvi fazer uma enquete com alguns amigos, perguntando a eles: Quanto vale dez divididos por meio? Para oito adolescentes que eu perguntei, recebi UMA resposta correta! Eu pergunto aos professores de matemática que lêem meu texto: Estou sendo exigente demais em esperar que uma pessoa que concluiu o ensino médio saiba dividir dez por meio? Para exemplificar ainda mais o meu espanto, num dia desses resolvi perguntar a adolescentes para que serve a unidade de medida Litro, tão estampada em rótulos de refrigerantes e outros produtos líquidos. Não consegui obter respostas corretas.
 
Eu concordo que existem temas ensinados no ensino médio que são de aplicação mais restrita, como números complexos ou geometria analítica. Mas eu particularmente acho razoável que os estudantes de ensino médio concluam o terceiro ano dominando, pelo menos, o conteúdo referente ao ensino fundamental, e não é isso que vem acontecendo.
 
Apresentado o problema, gostaria de lançar algumas perguntas:
 
Até que ponto o Poder público poderia lançar projetos para reverter a situação calamitosa pela qual a educação passa hoje em nosso Estado?
 
Até que ponto os professores têm condições de contribuir para reverter esse quadro? Os  avanços da pedagogia ao longo de séculos não conseguem tornar menos traumático o ensino de matemática para os estudantes? Recorro a mais um trecho de um artigo do Professor Luiz Barco: “(…) alguns cursos, oferecidos aos nossos estudantes por professores que têm, eles próprios, sérias lacunas em sua formação, estão mais próximos de um ritual inútil do que de um saudável exercício de formação intelectual”.
 
Uma postura diferente por parte dos pais e dos próprios alunos seria útil para a melhoria do ensino básico nas escolas, incluindo o ensino de matemática?
 
Entidades da sociedade civil, como ONG´S e empresas, têm condições de contribuir mais para que os nossos jovens adquiram uma nova mentalidade em relação a educação?
 
A mídia, com seu alto poder de influência, poderia educar mais em meio a tanta ignorância que ela difunde?
 
Irei escrever um novo artigo com as minhas opiniões sobre possíveis soluções para esse grave problema. Caso você, amigo leitor, também compartilhe das minhas preocupações sobre o ensino da matemática em Taboão da Serra e no estado de São Paulo, deixe um comentário ou escreva um e-mail para guimaraes_gilson@hotmail.com. Terei o maior prazer em conhecer pontos de vista diferentes do meu a respeito desse assunto. Gostaria, inclusive, de montar um grupo de discussão para discutir esse assunto, ao meu ver, tão relevante.
 
Termino o texto com uma pergunta: Você sabe quanto vale dez divididos por meio? Como diria um conhecido jornalista da região, quem acertar primeiro ganha uma raspadinha de groselha.

Notícias relacionadas