“O prefeito Evilásio foi, no mínimo, omisso”, diz Ivan Jeronimo
Foto: Eduardo Toledo
O prefeito Evilásio Farias é tido como "omisso" pelo investigador-chefe
Em uma entrevista contundente, Ivan Jerônimo falou sobre as novas investigações, disse que a Polícia Civil foca diversas denúncias ao mesmo tempo e que não tem prazo para terminar o inquérito que está deixando muita gente sem dormir em Taboão da Serra. “A investigação vai chegar a todas as pessoas que praticaram os crimes, doa a quem doer”, disse.
A seguir, a entrevista e o texto de abertura do jornalista Eduardo Toledo:
Apesar da sua fama de durão e de poucos amigos, Ivan Jerônimo não é o “bicho-papão” que está sendo pintado no imaginário de alguns políticos taboanenses. Durante a longa entrevista que seguiu madrugada adentro, interrompeu a conversa por diversas vezes para conversar com a família, brincou, falou de filme e de seus sonhos, que em grande parte envolve o fim da corrupção em Taboão da Serra.
Ivan é um policial compromissado com a busca da verdade. Sempre sério, estudando cada palavra dita pelo repórter, pensa muito antes de responder até mesmo as perguntas mais banais. Sempre colocando as respostas na terceira pessoa do plural, preza pela sua equipe, que elogia a todo momento, mas também cobra quando é preciso.
Seu trabalho, em conjunto com o Ministério Público, resultou no indiciamento de 11 pessoas ligadas as fraudes na dívida ativa da prefeitura, que comprovadamente causaram pelo menos R$ 1,2 milhão de prejuízo aos cofres da cidade. Mas Ivan garante que tem muito mais o que ser investigado. E ele conta tudo na entrevista que você lê logo abaixo.
Ivan, como você interpreta a entrevista do prefeito Evilásio Farias que disse ao Datena, que a polícia não pode ser política?
A fala dele visa interromper a investigação quando se coloca na condição de vítima, que pode estar sendo perseguido pela polícia, que deixa nas entrelinhas que a polícia age a mando da oposição. A polícia é apolítica, mas de outro lado, também não é subordinada ao poder municipal, ao contrário do que acontece em algumas cidades dos Estados Unidos. E ainda bem que não estamos nos Estados Unidos, porque neste caso a investigação não teria prosperado, porque estaria atingindo diretamente o meu chefe.
A investigação vai chegar em todas as pessoas que praticaram os crimes, doa a quem doer. Seja situação, oposição, servidor comissionado, concursado, ex-servidores ou integrantes do Poder Legislativo. O que nós não admitimos é sermos direcionados na investigação ou ainda que plantem testemunhas para atrapalhar o trabalho da polícia. Essas pessoas vão responder por denunciação caluniosa.
O Sr. deixa entender que o prefeito Evilásio teria alguma responsabilidade nessa história toda. O prefeito Evilásio tem culpa?
Não vou falar com base na minha convicção pessoal, mas diante da colheita de provas, há indícios que indicam que ele foi no mínimo, no mínimo, no mínimo, omisso. A investigação está sendo feita com total lisura e legalidade e mais, acompanhada por 10 promotores de justiça, cinco deles de Taboão da Serra e os outros cinco do Gaeco.
Mas o prefeito pode ser investigado pela Polícia Civil?
O prefeito possui foro privilegiado para ser processado, de outro lado, não existe investigação de segundo e terceiro grau. Investigaremos sim, no entanto, o que se refere ao prefeito será encaminhado para o foro competente.
Teremos novas prisões?
Como dito anteriormente, estamos prezando pela excelência da investigação, portanto é muito cedo para falar em novas prisões.
Em outra entrevista, o prefeito Evilásio Farias elogiou o trabalho da polícia.
Entendo que ele tentou corrigir o seu discurso inadvertido, mas que em nada ajudará ou prejudicará as investigações que estão em um ritmo muito rápido, infinitamente além do esperado. Ainda que as informações solicitadas ao Poder Legislativo e ao Poder Executivo não são respondidas na mesma velocidade que anteriormente.
Isso prejudica as investigações?
Mesmo com a dificuldade da falta destas informações, temos documentos, depoimentos que a cada dia nos surpreendem mais, podemos afirmar com segurança e responsabilidade que o rombo ultrapassará os R$ 10 milhões inicialmente calculados. Não me surpreenderia se o prejuízo aos cofres públicos for superior a 20, 30, 50 milhões de reais. Até porque há contribuinte com grande potencial que foi agraciado com a baixa indevida superior a R$ 1 milhão de uma só vez. Estou falando isso embasado em documentos e depoimentos, e não de forma inadvertida.
Trabalharemos em várias frentes, ou seja, um inquérito para cada modalidade de crime ou grupo que o pratica, pois prezamos pelo deferimento dos nossos pedidos perante ao Judiciário, além do que, queremos oferecer ao Ministério Público todos os elementos necessários para o oferecimento da denúncia e principalmente o objetivo final, que é a condenação por parte da Procuradoria da Justiça, além disso a recuperação do maior número possível dos valores surripiados da fazenda pública municipal.
Como você classifica as baixas feitas de forma tão banal dentro da dívida ativa da prefeitura?
Classifico as baixas indevidas como uma ‘anistia’ só que está destinada aos grandes contribuintes. Anistia esta promovida por servidores públicos que além de beneficiar os grandes, também serviu para beneficiar os amigos dos amigos [referência as pequenas baixas].
Quem é o maior culpado por não ter percebido esse rombo?
Essas baixas são impossíveis de não terem sido notadas pelo responsável que assina o balanço. É impossível que não tenha detectado, pois se trata de uma operação matemática, o que me leva a crer que realizaram ‘ajustes’, distribuindo a diferença existente, ou seja, ‘maquiando’ os balanços para corrigir a diferença originada pelos crimes.
Advogados de renome estão entrando no caso para defender os acusados, o Sr. se preocupa com essa situação?
Estamos tomando todas as precauções, os depoimentos estão sendo gravados e filmados para que posteriormente os combativos e competentes advogados não encontrem falhas para tentar alegar alguma nulidade, seja de qualquer ato.
O outro lado
A reportagem do Portal O Taboanense tentou falar com o prefeito Evilásio Farias na última sexta-feira, dia 27, para ouvir sua versão sobre os depoimentos do investigador-chefe. A entrevista foi solicitada diretamente ao secretário de comunicação Mário de Freitas, que não conseguiu, por diversos motivos, agendar a conversa. O Portal deixa aberto o mesmo espaço para que o prefeito possa rebater as acusações e se defender.