Flanelinhas fraudam e vendem tíquete irregular da Zona Azul
Por Nely Rossany, da Gazeta SP, e Nicolli Oliveira, do Portal O Taboanense
Após receber denúncias de esquema de fraude no serviço de estacionamento rotativo em Taboão da Serra, as equipes da Gazeta SP e do Portal O Taboanense foram apurar os fatos e a ação foi comprovada. Na sexta-feira, logo que nossa equipe chegou à rua Engenheiro Wilson Houck, esquina com a Caetano Barrela, no Centro, foi abordada por um indivíduo não uniformizado com vários tíquetes da Zona Azul em mãos. O homem perguntou à equipe quanto tempo o veículo iria ficar estacionado no local e ofereceu o tíquete já utilizado por outra pessoa.
A ação acontece todos os dias, e na presença de um funcionário do Consórcio que administra a Zona Azul. Nossa equipe voltou ao local ontem, conhecido como rua do Cartório, e observou de perto como funciona o esquema. Quando os motoristas estacionam e retiram o tíquete nos parquímetros e voltam para o carro, são abordados pelo flanelinha que pede o tíquete.
Foto:Thiago Neme | Gazeta SP
Flanelinha frauda sistema da Zona Azul na região central de Taboão da Serra
“Semana passada eu fui ao cartório, o cara me pediu o ticket que eu tinha, pois estava com meia hora sobrando, sei que eles usam para vender para outra pessoa. Ele disse que era para ajudá-lo e eu dei”, conta C. B. A., morador do Pq. Pinheiros, que não quis se identificar. C. B. A diz ainda que os “flanelinhas” já estão ali há anos e que com a chegada da zona azul, apenas alteraram a forma de trabalho. De acordo com ele, até os policiais têm conhecimento da fraude, mas não fazem nada por amizade.
Nossa equipe conversou com uma das pessoas que foi abordada pelo flanelinha e descobriu que muitas vezes o motorista paga mais caro ao flanelinha do que se retirasse o tíquete no parquímetro. “Eu não sabia que tinha Zona Azul e ele já chegou me oferecendo uns cartões, que eu nem sabia do que se tratava. Eu disse que iria ficar meia hora e ele disse que na volta eu pagaria R$ 4,25. Ainda bem que vocês me falaram que o valor por meia hora pela Zona Azul é R$ 1. Quando voltei, ele cobrou só o ‘cafezinho’”, contou Nei Martins, 53 anos, morador do Parque Assunção.
Uma funcionária do rotativo, que preferiu não se identificar, diz já ter repassado para seus supervisores o caso, mas até hoje nenhuma providência foi tomada. Ela também explica que o ponto de maior incidência da ação é aos arredores do cartório. “Em outras partes do Taboão nunca vi, só aqui mesmo”.
Procurada pela nossa reportagem, a Assessoria de Imprensa do Consórcio alegou que a empresa não pode fazer nada, pois a ação não é classificada como crime. “Infelizmente a empresa e a polícia não tem competência para impedir a ação, quem assume a responsabilidade é o usuário. A orientação do Consórcio é que os usuários para sua maior segurança devem retirar os tíquetes de estacionamento apenas nos Parquímetros, pois existe um grande risco de pagar por um tíquete com horário expirado e também ser autuado por colocar o tíquete em local incorreto, como fora do veículo”.
Quanto aos flanelinhas, a Prefeitura de Taboão da Serra informou que os encaminhou para cursos na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda e que muitos estão empregados, mas alguns preferem continuar realizando o trabalho informalmente.
Entenda como funciona o esquema
Situação 1- Tíquete usado
1º O motorista estaciona o carro
2º Utiliza o parquímetro para retirar o tíquete e paga pelo período de uma hora (por exemplo)
3º Quando ele retorna ao veículo com tempo ‘sobrando’ no tíquete (por exemplo, pagou R$ 2 por uma hora, mas só utilizou 30 minutos), ele é abordado pelo flanelinha que pede o tíquete alegando que é uma forma de ajudá-lo
Situação 2 – Venda do Tíquete
1º Já com o tíquete usado e com ‘crédito’ em mãos, o flanelinha aborda o próximo motorista que ainda vai estacionar
2º O flanelinha então oferece várias opções de tempo para o motorista com os tíquetes usados em troca de um ‘cafezinho’ ou por algum valor estipulado na hora, às vezes mais caro que se retirasse o tíquete no Parquímetro
Zona Azul ainda pode ser cancelada
Uma das polêmicas da Zona Azul é o contrato que estipula que o Consórcio fica com 94% do valor arrecadado e a Prefeitura apenas com 6%. Consórcio e Prefeitura alegam que o contrato foi feito de acordo com a Lei e que é uma prática legal, mas a discussão continua. A Câmara Municipal chegou a revogar a Lei que autorizava a instalação da Zona Azul na cidade, mas a prefeitura conseguiu liminar na Justiça autorizando a cobrança.
A Gazeta SP obteve a informação de que a Câmara já recebeu o comunicado do Tribunal da Justiça para contestar a decisão, mas a Procuradoria da Câmara não quis comentar o assunto. Depois de serem chamados pelo TJ, os vereadores terão 30 dias para apresentar documentação para conseguirem revogar a Lei de implantação da Zona Azul e cancelar a cobrança.