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Fazendo Arte na Escola leva poesia para alunos do Eja

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Redação

02/06/2009 00:00
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Levar a arte para dentro das escolas e ali, junto com os alunos, debater o que é cultura e como ela está presente na vida de cada um dos estudantes. É assim que o poeta Sérgio Vaz vem desenvolvendo, em silêncio, um projeto chamado Fazendo Arte na Escola, uma iniciativa da Prefeitura de Taboão da Serra que começou há dois anos.
 
Na última sexta-feira, dia 29, Sérgio Vaz esteve na escola Francisco Ferreira Paes, no Jd. Mituzi. Na platéia, alunos de Educação de Jovens e Adultos (Eja). Muitos ali tinham, pela primeira vez, contato com a poesia. “Acho que é uma experiência muito proveitosa, tanto para os alunos como pra mim”, diz.

Foto: Eduardo Toledo

Sérgio Vaz e alunos durante palestra em escola do Jd. Mituzi

 
No início, os alunos acompanham, um pouco ressabiados, o que o poeta está dizendo. Muitos, desconfiam. “Ele [Sérgio Vaz] fala que a poesia está presente no nosso dia-a-dia, mas não sei se é verdade”, questiona um homem que aparenta ter mais de 50 anos. Apesar da resistência inicial, Sérgio Vaz vai desmistificando a poesia, mostrando que a literatura e os poemas não são apenas para “intelectuais”.
 
“Podemos fazer poesia sobre o que acontece todos os dias da nossa vida, a poesia não é só aquela coisa romântica, podemos protestar através da poesia, podemos contar nossas angustias e medos. As letras das músicas, por exemplo, elas são poesias”, explica Vaz para a platéia que começa a interagir um pouco mais.
 
Depois de explicar, Vaz começa a demonstrar como a poesia pode ser poderosa e surpreendente. Em certo momento, ele lê uma poesia de sua autoria. Diz que ela se chama “Pé de Pato”. “Vocês sabem o que é um pé de pato, não? Pois bem, a poesia é assim: ‘Bruno matou a mãe, matou o pai, os irmãos, os avós, os vizinhos. Matou todo mundo de saudade, quando foi para a faculdade’”.
 
Diante do final inesperado que o poeta leva seus ouvintes, todos aplaudem muito, alguns riem e todos passam a entender que a poesia pode emocionar e que a literatura é algo palpável a todos. “Acho que esse projeto da Prefeitura deveria se chamar ‘Pintando o Sete’, porque a gente fica parecendo criança”, brinca Vaz.
 
Quebrado o gelo inicial, os estudantes começam a se animar, fazem perguntas, querem saber tudo: porque ele começou a escrever, quanto tempo ele é poeta, quantos livros ele já publicou, enfim, o que era para ser uma palestra vira uma sabatina interminável. Muitos alunos passam a pedir novas poesias, que Vaz lê durante mais de uma hora.
 
No final do projeto, Sérgio Vaz já agradecia aos estudantes “por terem tido a paciência de me escutar por todo esse tempo”, quando um senhor, com idade avançada, diz: “meu sonho é ser poeta”. Vaz não responde, mas depois confessa: “eu pensei a mesma coisa, também quero ser poeta”.
 
Os frutos do projeto Fazendo Arte na Escola pelo jeito vão continuar a crescer. Em breve Vaz irá voltar a mesma escola, onde dará uma oficina, dando a oportunidade de cada um ali escrever a sua própria poesia. A ideia é que esses alunos um dia possam ir até o Sarau da Cooperifa recitar seus poemas.
 
Para a coordenadora do Eja na escola Francisco Ferreira Paes, Priscila Freitas Lima, o trabalho que vem sendo desenvolvido é muito bom, porque a maioria dos alunos não tem como vivenciar essas experiências em outros lugares, a não ser a escola. “É aquilo que o Sérgio fala tanto, a literatura dá prazer. Na maioria das vezes a gente só pode viajar através das páginas de um livro e quem não conhece os livros não consegue fazer essa viajem”.
 
No final, em uma sexta-feira fria, muito alunos ainda pedem que a palestra continue. “É difícil explicar, mas esses encontros fortalecem a minha caminhada, espero que não seja diferente pra eles”, pensa Sérgio Vaz. No final, o senhor que duvidava da proximidade da poesia com a vida procura a reportagem e diz: “o poeta estava certo”. É claro que estava.

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