Debate entre oposição e situação faz o clima ferver na Câmara
A Câmara Municipal de Taboão da Serra teve mais uma sessão longa nesta terça-feira, dia 11. Os vereadores de situação e oposição protagonizaram um debate violento, cercado de acusações, ameaças e ironias. Dois projetos foram aprovados em regime de urgência. Indicações e requerimentos receberam pedidos de vistas e foram remetidos para a próxima sessão.
A sessão começou com o pedido de vistas das indicações e requerimentos, o que não agradou a oposição. “Na semana anterior os vereadores a base retiraram todos os requerimentos. Até porque eles não precisam desse instrumento, mas não atrapalhe quem quer trabalhar. São todos requerimentos importantes, não vejo porque jogar para semana que vem”, questionou o vereador Moreira (PT).
O vereador Luiz Lune (PCdoB) também não aprovou as vistas. “Como a máscara cai. Alguns vereadores subiam aqui e diziam que por conta das denúncias [contra o prefeito Fernando Fernandes] os requerimentos não eram votados. Hoje que não tem denúncia, a coisa não anda”, disparou.
O vereador Marco Porta (PRB) rebateu a oposição. “É muito fácil quando se tem um discurso de oposição, vir aqui e jogar pra galera, só que temos que ter responsabilidade com essas coisas. Não estamos morando na Suíça, que dizem que não tem buraco na rua […] estamos morando em Taboão da Serra, com muitos problemas, mas temos prioridades”.
O pedido de abertura de CEI contra a Cooperativa Vida Nova, presidida pelo ex-vereador Aprígio, voltou a ser tema de debate. Fica clara uma briga política nas acusações feitas pelos vereadores da situação, o que vem causando atritos entre os dois principais grupos políticos da cidade.
O vereador Marco Porta voltou a falar em abrir uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar possíveis irregularidades da Cooperativa Vida Nova. “Eu reafirmo meu pedido de CEI para apurarmos sim. Ele [Aprígio] vai ter o direito de se defender se deve ou não. Se esse cidadão deve o que o governo municipal entende que deve, são R$ 260 milhões que foram tirados do povo. Queremos saber. Qual o problema?”, questionou.
Porta falou sobre um “boato” que circula na cidade, que ele teria recebido “cifras” de Aprígio para apoiar a candidatura dele a prefeito nas eleições de 2012. E “provocou” a vereadora Luzia, dizendo que ela deveria explicar porque disse que ele não era a “pessoa apropriada solicitar” para apresentar o pedido de CEI, uma vez que como vereador, ele tem essa prerrogativa.
“Quero lembrar a dona Luzia que somos vereadores e temos todo direito de pedir uma CEI. Mas quero dar o direito, e acho que é um dever da senhora, dizer por que o vereador Marco Porta não tem direito de pedir uma CEI”, disse.
Porta continuou seu discurso. “Criaram um mito na cidade, de que o vereador Marco Porta havia pegado cifras do seu Aprígio e migrou para outra candidatura. Isso é mentira. Mas eu quero que me mostrem se houve alguma transação econômica tem que haver provas… ou será que o seu Aprígio usa a prática do caixa dois em campanha. Porque fora isso não tem nada”, disparou.
A vereadora Luzia Aprígio (PSB) disse ao colega, que se ele quiser saber alguma coisa sobre o o ex-vereador Aprígio, ele sabe onde encontrá-lo, e que ela, “não é correio”. “Se o senhor conversou com o seu Aprígio sobre coligação de partido eu não estava presente, então o senhor vai lá e fala com ele. Se ele pagou para o senhor, de onde ele tirou o dinheiro e se ele tirou, e se recebeu e não cumpriu o que tinha combinado, porque não devolveu?”, questionou.
Moreira “alertou” Porta, que esse não é o caminho. “Não há motivo para pedido de CEI […]. Quero alertar o vereador Marco Porta para não ir por essas veredas, porque nós sabemos como começa, mas não sabemos como termina”, falou o parlamentar.
Os vereadores André Egydio e Eduardo Lopes, ambos do PSDB, também assinaram o pedido de CEI. “A gente não pode prevaricar, é por isso que vou assinar a CEI”, disse Egydio.
CEI na geladeira
Pelo menos nesta semana a CEI, que para alguns tem tom de ameaça contra Aprígio, ficou na geladeira. E, para surpresa de muito, um dos responsáveis pelo travamento do pedido, foi o vereador e líder do governo Eduardo Nóbrega (PR). Informações de bastidores dão conta que Nóbrega foi um dos articuladores para que os ânimos se acalmassem.
Após uma reunião a portas fechadas, os demais vereadores da base governista não assinaram o pedido de CEI. “Por favor, não se sinta abandonado, desamparado pela base, entendemos as razões para solicitar a CEI. Vamos nos debruçar sobre o requerimento para discutir, analisar e debater para chegarmos a um consenso único. Nesse momento encaminhamos para uma melhor avaliação. Foi esse o acordo de não assinarmos na tarde de hoje o pedido de CEI sobre possíveis irregulares em um terreno na cidade”, declarou o vereador Eduardo Nóbrega.
Clima quente
Após a votação dos dois projetos que entraram em regime de urgência, com a sessão já no fim, os ânimos voltaram a se exaltar, talvez como nunca visto antes nessa legislatura. Lune, que já havia discutido com Marco Porta no início da sessão, voltou a protagonizar um debate acalorado com Eduardo Nóbrega.
Os dois trocaram acusações e chegaram a se insultar na tribuna. Lune disse que o prefeito Fernando Fernandes “pratica” nepotismo ao manter no cargo de secretário o filho Fábio Fernandes (esporte) e o cunhado, Gerson Brito, na segurança. Nóbrega defendeu os dois e disse que Lune mantém a esposa no gabinete do vereador de Embu das Artes, Jeferson, do qual cuidou na infância.
Lune se exaltou, chamou Nóbrega de “pau mandado” do prefeito Fernando Fernandes e acusou o vereador líder do governo de “se esconder atrás da igreja”. Nóbrega subiu na tribuna e disse que confirmava tudo o que tinha dito e questionou os interesses de Lune nas críticas ao governo e desdenhou: “talvez você nem tenha como fazer consciente eleitoral”, uma provocação a dificuldade do partido de Lune alcançar a votação mínima para eleger um vereador em 2016.