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Batalha de Abril

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Redação

01/05/2008 00:00
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Não há palavras para descrever o que foi a noite da quarta-feira, dia 30, no sarau da
Cooperifa. Quem sabe talvez "Catarse" seja a palavra para defini-la. Na noite mais fria de São Paulo a periferia teve uma das noites mais lindas de sua vida. Uma das noites mais gentis e belas de nossas vidas. Uma noite em louvor à amizade, à palavra e à poesia. Uma noite para sempre, em nossas retinas.
Só para se ter uma idéia, nesta quarta-feira fria de véspera de feriado, onde boa parte dos paulistanos estava entrincheirados e mau-humorados na imensidão do trânsito em buscas de dias de paz, onde a torcida do Palmeiras, Corinthias e São Paulo estavam em casa ou no Morumbi assistindo os jogos, mais de quinhentas pessoas vindas da comunidade, de outras quebradas, outras cidades, de outros estados e até de outros países, compareceram ao Sarau da Cooperifa para participar do 2º Poesia no ar, que para sempre, devido às dificuldades, será lembrada como a batalha de abril.

Foto: Eduardo Toledo

Poesia no Ar

Duas escolas, Zacarias e Antônio Agio, enviaram seus alunos para prestigiarem o evento. Os Professores dessas duas escolas acreditam que o sarau da Cooperifa é uma extensão da sala de aula, por conta disso, da proximidade do conhecimento, muito de nós estamos perdendo o medo das notas vermelhas e estamos voltando a estudar. A gente achando que estava seduzindo a escola, e a escola, dos nossos parceiros professores, nos seduzindo descaradamente. Sem os muros entre nós, que bela aula nos tivemos – muita gente já voltou a estudar por conta dessa irmandade. Escola + comunidade = Futuro.
Bom, mas voltando à noite mágica, o sarau transcorreu normalmente até às 22hs30, e vale lembrar que tinha mais ou menos uns cinqüenta poetas para declamar, e todos recitaram normalmente. Quer dizer, foram normalmente fantásticos!
Uma poesia mais bela do que a outra, se é que isso é possível, e uma noite de literatura pura, como há muito não se via, como há muito não se produzia. Mesmo por aqueles que ordenam, quem deve escrever e quem deve ler nesta metrópole cinza e analfabeta, comandada por uma elite de intelectuais arrogantes que nos odeiam por amar os livros e à criação poética. Que comam brioches!
A esta altura, quase quinhentos balões, portando poesia e mensagens do sarau da Cooperifa devem estar chegando nos quintais do povo paulistano, com um pouco do que aconteceu na noite de quarta-feira. Dê uma olhada no seu quintal, quem sabe…
Se você não esteve lá, perdeu, porque não vai passar em nenhum órgão da imprensa, que tem muito mais apreço à bala perdida, do que poesia. Ora, então por quê será que eles tanto pedem paz? Em frente à praça uma pequena multidão portando balões com munição poética aguardava em posição de combate, a contagem regressiva, para o atacar a cidade enquanto ela dormia, quase que inocentemente, com uma chuva de poemas contendo um gás extremamente venenoso: a resistência.
 
Não banquem os tolos, estamos em guerra, e a nossa poesia iletrada, dura e com cheiro de pólvora, é apenas um artifício para confundir os tais sábios, e os que fingem que não sabem de nada. A Poesia no ar é só aviso que o nosso pequeno exército marcha corajosamente sobre a terra, contra tudo e contra todos, mas sem esquecer o sorriso no rosto, e os punhos cerrados. Somos nós por nós!
 
Por uma periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

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