Ary Dáu Morreu!
Pois é, perdi o meu querido amigo, o meu irmão de lutas. O pequeno grande homem da história de Taboão da Serra! Lembro-me quando Ary foi empossado como vereador, em 1964 e eleito presidente da Câmara, repetindo o feito durante os anos seguintes até o fim de seu mandato.
Veio sua eleição de prefeito e a luta para manter sua vitória na Justiça Eleitoral, devido as inúmeras tentativas dos adversários em conseguir uma reviravolta por causa da diminuta diferença entre ele e o segundo colocado. Foi um verdadeiro tormento, enfrentado por ele, durante quase dois anos, até que finalmente, prevaleceu a justiça confirmando sua vitória nas urnas.
Foto: Arquivo do Portal O Taboanense
Ary Dáu, sentado a direita, ao lado da então prefeita Laurita Ortega Mari e vereadores da década de 60
Ary não era e nunca foi um político profissional. Mesmo quando estava prefeito, continuava trabalhando como Diretor Financeiro da Pancostura, empresa especializada em máquinas de costura industriais, localizada na Capital.
Logo no amanhecer lá estava o Ary trabalhando no seu gabinete de prefeito, ou andando pelas ruas da cidade para acompanhar as obras em andamento. No início da noite chegava à Prefeitura para despachar com seus auxiliares e planejar o que sua administração deveria realizar. Dormia pouco ou quase nada, mas estava sempre disposto para o trabalho.
Mesmo acossado por alguns grupos de oposição, Ary trabalhava a todo vapor para melhorar a cidade. Sua reforma administrativa mudando até o sistema de pagamentos somente por cheques nominais eliminou as possibilidades da proliferação da propina, questionada por muita gente.
Sua luta para trazer a água canalizada para a cidade foi o marco de sua administração. Buscou apoio do governo do Estado, no Governo Federal, mas no fim, com financiamentos aprovados pelo Senado da República, conseguiu realizar a obra de seus sonhos e a grande esperança dos que aqui residiam.
Espalhou pela cidade alguns postos de ambulância visando socorrer a população residente em locais mais distantes que tinha somente o Hospital das Clínicas, da capital, para atendê-la.
As iniciativas de Ary Dáu eram inspiradas nas próprias dificuldades enfrentadas antes, por ele mesmo, no tempo em que a vila da Taboão não tinha luz domiciliar, água encanada, escolas, transportes coletivos e tantos outros serviços públicos dos quais só se ouvia falar.
Como um pai que não admitia que seus filhos passassem as agruras pelas quais passara, Ary corria contra o tempo tentando remover obstáculos. Sensibilizava nossos governantes estaduais e federais para que tomassem conhecimento daquela pequena cidade que nascera no sudeste do Estado, desprovida de tudo, como se fosse uma terra de ninguém!
Construiu dezenas de escolas isoladas, conseguiu que o Estado entendesse a necessidade de uma escola estadual para atender a população crescente. Iluminou diversos bairros que até então nem iluminação domiciliar possuíam. Fez com que as empresas de ônibus, que até então apenas passavam pela BR 116, começassem a criar linhas servindo os bairros e com isso chegando maios perto da população.
Homem de muita fibra, não se encolhia diante das dificuldades. Calejado pela própria existência, sempre encontrava forças para enfrentá-las. Guardo com carinho suas proféticas palavras: “Taboão é uma cidade atrevida que pensa grande e em pouco tempo será motivo de orgulho para todos”.
Seu caráter, sua coragem e lealdade foram ensinamento que me ajudaram, pouco tempo depois, a governar a cidade com muita garra e destemor.
Velho e querido amigo, meu coração partido, neste triste momento da vida, me traz um pensamento que conforta: Um dia voltaremos a nos encontrar para continuar a grande amizade que sempre nos uniu. Descanse em paz, homem de fé!