Artigo Monsenhor Aguinaldo: Coragem, eu venci o Mundo
Por Monsenhor Aguinaldo
Confesso-lhes, queridos amigos e amigas, que por muitas vezes em minha vida sacerdotal foram estas palavras de Jesus, ditas aos Seus discípulos antes de Sua partida deste mundo físico, que me encorajaram a fazer coisas que aparentemente pareciam impossíveis de serem feitas aos olhos humanos. Uma delas foi a construção do nosso novo Santuário Santa Terezinha que contou com a participação de toda a nossa comunidade e hoje acolhe, orienta e salva milhares de almas para Jesus, como sempre foi e sempre será o desejo de nossa padroeira e eterna intercessora no céu: Santa Terezinha do Menino Jesus.
A coragem, meus filhos e filhas em Cristo, é imprescindível para que nós possamos vencer as barreiras e dificuldades que satanás coloca em nossas vidas, sempre que nos dispomos a realizar alguma obra de Deus neste nosso mundo! Compreendam que, como sacerdote, eu recebi o sacramento da ordem que me capacita a salvar almas para Jesus, porém, mesmo assim, contando com este poder que vem do alto, eu preciso ter coragem para enfrentar e combater o mal: denunciando-o publicamente sem medo e, ao mesmo tempo, anunciando corajosamente a todos vocês e ao mundo inteiro a Boa Nova de Jesus, que vem na contramão dos interesses do mundo.
Sem coragem, meus amigos e minhas amigas, nem nós sacerdotes, muito menos vocês fiéis cristãos, conseguiremos vencer o mal pela prática do bem, como nos fala claramente o apóstolo São Paulo em sua Carta aos cristãos que viviam em Roma, onde sofriam as consequências do mal que incitava os romanos a os perseguirem, os torturarem e os matarem por crerem na Ressurreição de Jesus e por isso propagarem o Seu Evangelho a todos, indistintamente e sem temor.
Assim escreve-lhes São Paulo: “Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Se for possível, quanto depender de vós, vivei em paz com todos os homens. Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mas deixai agir a justiça de Deus, porque está escrito: A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,25). Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer, se tiver sede dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça (Pr 25, 21s). Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal pelo bem.” Rm 12, 17-21.
Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal pelo bem!
Para colocar em prática em nossas vidas este sábio ensinamento de São Paulo, precisaremos de coragem para vencer os nossos instintos naturais de sobrevivência ou de autoestima que, inconscientemente, nos leva aos desejos de vingança ou, ao menos, a retribuirmos o mal com o mal, como diz o ditado popular: “pagando na mesma moeda”. Precisaremos também demonstrar a nossa fé em Deus, na confiança de que, agindo assim, como nos ensina Sua Santa Palavra, estaremos nos deixando conduzir por Seus Santos Mandamentos e seguindo Sua Santa Lei tão bem explicada a nós por Seu filho Jesus em tantas passagens do Seu Santo Evangelho.
Praticar o bem, amigos e amigas, exige de nós muito mais do que “apenas” evitar fazermos o mal. O bem exige de nós: renúncia, moderação, temperança, desapego, humildade, perdão constante, paciência e tantas outras virtudes que precisam da nossa coragem para serem aplicadas em nossas vidas no dia a dia. Coragem que foi a “arma” utilizada pelos santos e santas, que hoje vivem na Glória de Deus, para vencerem o mal em suas vidas terrenas, superando-o pela prática constante do bem. O mal, por sua vez, não precisa de nada mais do que nos deixarmos levar por nossos instintos naturais que são aguçados pelo demônio para nos desviar dos caminhos de Deus, nos incitando à pratica do mal e com isso espalhar as suas sementes malignas pelo mundo.
Fé e coragem juntas potencializam nossas forças espirituais
Se, fundamentados na fé que temos em Deus, desenvolvermos em nós a coragem para agirmos a favor do bem neste mundo, estaremos criando em nossa vida aquilo que os cientistas chamam de sinergia, que nada mais é do que a potencialização de uma força que, se utilizada simultaneamente com outra força diferente, produz um efeito maior do que se nós usássemos somente uma delas de cada vez. É algo como somarmos dois mais dois e conseguirmos cinco ou seis como resultados finais: isto é sinergia. Uma força utilizada sozinha produz um efeito, outra força, da mesma forma, se utilizada isoladamente, produzirá também o seu efeito, porém se nós usarmos ambas ao mesmo tempo o efeito final produzido pelas duas forças será maior que os efeitos produzidos por cada uma isoladamente.
Diante disso, o fiel cristão precisa aprender a buscar sinergia, aplicando em sua vida as forças da fé e da coragem ao mesmo tempo. Assim seremos capazes de realizar maravilhas neste mundo. Um exemplo disso é a passagem do Evangelho onde Jesus caminha sobre as águas indo ao encontro dos discípulos que saíram à Sua frente, de barco, deixando-O em terra para que Ele pudesse orar ao Pai. Terminada a Sua oração, Jesus caminha sobre as águas em direção ao barco, onde estavam Pedro e os demais apóstolos.
Como era noite, ao verem aquele vulto caminhando sobre as águas, todos se apavoraram, pensando tratar-se de um fantasma. Pedro, porém, tomando a iniciativa pergunta com determinação: Quem vem lá? E Jesus, tranquilizando-os responde: “Sou eu não temais. Mas, respondeu-lhe Pedro: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas. E Jesus disse: Vem; e Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a afundar, clamou, dizendo: Senhor, salva-me! E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?” Mt 14, 27 – 31.
Se analisarmos objetivamente porque razão Pedro afundou antes de chegar até Jesus, veremos que não foi por falta de fé, porque quando Jesus lhe diz: vem, imediatamente ele sai da barca e caminha sobre as águas na direção do Mestre. Pedro agiu desta maneira, prontamente, porque tinha fé em Jesus, assim como todos nós fiéis cristãos também temos fé n'Ele. Porém, o que faltou a Pedro naquela hora foi exatamente a coragem para continuar caminhando, seguindo a ordem de Jesus.
Relata-nos o evangelista Mateus que ao sentir o vento forte: Pedro teve medo! E foi o medo que o fez afundar, precisando apelar para Jesus que o salvasse das águas agitadas pelo vento. Ora o medo é o sinal evidente da falta de coragem de Pedro. Fé ele teve mais do que suficiente, porque ao chamado de Jesus Pedro imediatamente saiu do barco e começou a caminhar sobre as águas, mas faltou-lhe a coragem para vencer o medo dos ventos fortes e continuar caminhando sobre as águas até alcançar Jesus. Se Pedro tivesse associado a sua fé em Jesus à coragem, ele teria conseguido caminhar sobre as águas até Jesus! Teria vencido e experimentado o milagre de caminhar sobre as águas como Jesus caminhou!
Quantas vezes em nossa vida, nós, inconscientemente, agimos da mesma maneira que pedro agiu neste episódio narrado por Mateus?
Da mesma maneira do que Pedro, muitos de nós, fiéis cristãos que temos muita fé em Jesus, não conseguimos complementar a nossa fé com a coragem suficiente para levarmos adiante a nossa missão neste mundo ou mesmo os nossos propósitos e objetivos pessoais. Por isso tantas coisas que ainda precisam ser feitas neste mundo por meio de nossas mãos e com a intervenção divina, não acontecem: por causa de nossos medos diante dos “ventos fortes” que surgem de uma hora para outra no decurso de nossa caminhada. Mesmo tendo diante de nós o Mestre Jesus nos dizendo Vem, vai, siga em frente, não temas, coragem, etc. nós nos acovardamos frente à primeira “ventania” que surge e “afundamos” mar abaixo, gritando por Jesus, como aconteceu com São Pedro.
Fé e Coragem: para que assim, todos nós, desenvolvendo a nossa coragem e tendo como fundamento nossa fé em Jesus Cristo, possamos realizar maravilhas nesta vida, salvando muitas almas para Jesus. Precisamos de cristãos com fé e coragem para, juntos, enfrentarmos os desafios e obstáculos que surgirem no decorrer da vida! A vida com JESUS é mais feliz!
Mons. Aguinaldo
Pároco e Reitor do Santuário Santa Terezinha