Ao mestre, a eternidade
Quando o conheci foi amizade à primeira vista. Foi como se tivesse reencontrado um velho amigo de infância. Daqueles que a gente dividia o pão com mortadela e um copo de Tubaína. Meu amigo é daqueles que a gente dividia o céu para empinar pipa, nem mesmo vidro moído podia separar.
Meu amigo é daqueles que a gente ficava triste por não ter caído na mesma classe, na época de escola. Vai vendo a poesia do destino, o meu amigo é um grande professor. Quando ele cita o meu nome, respondo: Presente!
O meu amigo quando sorri, abraça com os olhos e seu coração mais se parece com uma escola, não daquelas onde se ensina, mas daquelas onde se aprende.
As rugas do meu amigo escrevem certo por linhas tortas, seu rosto é o mapa da cidade. Em sua face, tecida crua pelo tempo, é possível localizar cada bairro e se achar por cada rua que lhe escorre pelos olhos.
O Professor Said é daqueles amigos que sabe as respostas antes mesmo que a gente faça a pergunta. Por isso não questiona, nem põe à prova. Para um verdadeiro amigo não se dá nota. A gente só sabe que ele passa de ano, todos os anos, junto com a gente.
Queria um dia também poder completar setenta anos como o professor está completando. E que esse dia fosse uma grande festa rodeada de bons e velhos amigos, e que na hora de apagar as “velhinhas” eu fizesse a chamada:
-Professor Said?
E lá do fundo, como uma dessas surpresas da vida, ele me respondesse:
-Presente!
Aí, nesse dia, sou eu quem iria tocar o sinal do recreio.