A beleza da cidade depende dos olhos de quem a vê
Não tiro a razão de ninguém, realmente a cidade muitas vezes prega surpresas desagradáveis e olhando bem são poucos os cartões postais de Taboão da Serra. Mas carrego comigo um sentimento quase materno por essa cidade. Vim pra cá com quatro anos e tudo o que fiz de importante na minha vida (se é que fiz alguma coisa), fiz aqui.
Foto: Eduardo Toledo
Vista da região central de Taboão da Serra em 2001. A cidade bela dorme tranquila
Mas voltando as fotos, voltando a beleza da cidade, sempre procuro um ângulo que torne quase poética a forma de clicar Taboão da Serra. E tenho orgulho de ter conseguido boas fotos da cidade. Outro dia, pesquisando imagens para ilustrar as matérias do aniversário de 51 anos de Taboão, me deparei com com um arquivo imenso de belas imagens e foi aí que eu percebi que a beleza da cidade depende dos olhos de quem a vê.
Longe de querer ser o único dono dos momentos onde Taboão da Serra desabrocha sua beleza, descobri momentos gravados na película que estão eternizados. Comecei a fuçar em tudo, todas as imagens da cidade que possuo e me deparei com momentos belos e históricos. Vi os cliques do ótimo fotógrafo Wlad Raeder, que leva a sensibilidade na sua retina e só por isso já é responsável por muitas marcas na nossa história.
Material mais recente, porém não menos belo, as fotos de Ricardo Vaz ilustram diversos jornais, inclusive o Portal O Taboanense. Com seu jeito tranquilo, o jornalista que virou fotógrafo, imortaliza lances que só ele, através de suas lentes, consegue enxergar. E se a beleza está em todos os lugares, como não lembrar das fotos de Marco Pezão, que eternizam para sempre os lances da várzea taboanense e extrapolam em poesia a mais longínqua pelada.
E de beleza, o fotógrafo Renato Riso entende. Dono da maior coleção clicada de garotas taboanenses, Riso se aventura no fotojornalismo, extrai até da tragédia, como as enchentes, a beleza e a dor, que sempre caminham juntas. Do passado, resgatei fotos incríveis do Britz, do Vicente Firmino e do eterno e inesquecível professor Waldemar Gonçalves. Até o crica do David da Silva já produziu material fotográfico memorável sobre a cidade.
Da turma mais atual, que ainda rala todos os dias nas ruas, me distraio com as fotos do Allan dos Reis, do Márcio Cansian, do Eduardo Novaes, da Renata Gomes, do Thiago Neme e de outros anônimos que conseguem enxergar que essa cidade não é bela, mas linda e guarda para aqueles que se atrevem a explorá-la uma pose pra lá de sensual.
Fiquei pensando no dia em que Taboão conseguiu a sua emancipação em 1959. Imaginei se teve festa, se teve gente saindo pelas ruas cantando, dançando, sorrindo e comerando. Se as pessoas foram celebrar nos bares, nas igrejas e nas praças. E imaginei que se tudo isso aconteceu do jeito que acredito que tenha sido, se tinha alguém fotografando, registrando para sempre esse marco histórico que hoje, 51 anos depois, nós todos comemoramos.
Essas fotografias que todos nós fazemos, por obrigação ou por amor (no meu caso, por amor) ficarão para sempre, mesmo depois que todos nós tivermos ido embora daqui, elas ainda permanecerão, revelando para sempre a beleza dessa cidade. E quando Taboão completa mais um aniversário, ainda puxo pela memória o poema que Sérgio Vaz fez para a cidade, após ver essa foto aí de cima, que foi clicada por mim em um momento de pura felicidade.
Como diz o poeta: “ Dorme Taboão/ Tranqüila nos braços do universo/Recostada sobre o dorso das serras./ À noite,/ Numa velocidade lunar,/ A América Latina rasga teu coração/ Como num romance breve/ (amar e despedir),/ e parte para outros braços./ A Lua,/ Ausente e abstrata,/ Vela o passado/ Para o futuro despertar./ Enquanto isso, os poetas,/ Paladinos da madrugada/ Riscam palavras luminosas/ No asfalto vazio/Pra quando a cidade acordar.”