Mons. Aguinaldo: Natal é tempo de renascer em Jesus Cristo
Por Monsenhor Aguinaldo, pároco e reitor do Santuário Santa Terezinha
O Natal de Jesus Cristo, que anualmente celebramos solenemente, é um período muito especial na vida de cada um de nós cristãos, entendendo como cristãos todos aqueles que, acreditando que Jesus é o filho de Deus, crêem também que Ele é o nosso Salvador: aquele que veio ao mundo, experimentou as nossas limitações e nossas fragilidades humanas (exceto o pecado), sofrendo física e espiritualmente, como nós, e morrendo na cruz para nos resgatar definitivamente da morte eterna. Por isso, cada Natal celebrado em nossas vidas é um tempo oportuno para que renasçamos em Jesus Cristo, a partir do presépio onde figurativamente o colocamos para nunca nos esquecermos deste acontecimento único e maravilhoso!
A esta altura, alguns de vocês poderão estar questionando-se: como podemos renascer novamente se já nascemos um dia saindo do ventre de nossas mães e também já vivemos um período de anos, uns mais outros menos? Foi exatamente esta a questão que Nicodemos, uma das maiores autoridades religiosas judaicas da época, apresentou a Jesus, que afirmara a ele: “Quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus.” (Jo 3, 3). Aliás, nos conta o evangelista São João que Nicodemos assim pergunta a Jesus: “Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer uma segunda vez?” (Jo 3,4). João não nos revela se esta colocação de Nicodemos foi uma ironia ou se realmente foi uma dúvida concreta, porém, nos narra que Jesus responde a ele imediatamente, reafirmando e complementando o que dissera anteriormente: “Quem não renascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito. Não te maravilhes de que eu tenha te dito: Necessário vos é nascer de novo.” (Jo 3, 5 -7).
Necessário vos é nascer de novo
É esta afirmação de Jesus a Nicodemos – hoje, nas proximidades da celebração de Seu Natal, particularmente a cada um de nós – que nos sugere um constante e permanente renascer em Jesus Cristo a partir do nosso espírito (ou de nossa alma, como dizem as pessoas mais tradicionais) por meio do Espírito Santo, que o mesmo Jesus nos legou e que o Pai nos enviou a partir de Sua Ressurreição e Ascensão ao céu, no dia de Pentecostes. Este Espírito nos permite renascermos quantas vezes forem necessárias em nossas vidas, purificando-a e santificando-a gradualmente!
Renascer em Jesus Cristo a cada Natal que celebramos, não significa rejuvenescer o nosso corpo (ou a nossa carne como nos diz Jesus) que, ano a ano, envelhece e deixa transparecer os sinais dos tempos registrados em nossas rugas, em nossos cabelos brancos e nas dificuldades naturais da senilidade física que enfrentamos. Renascer em Jesus Cristo é renovar a cada ano o nosso espírito, transformando, como brilhantemente nos ensina o apóstolo Paulo, o homem velho em um homem novo, espiritualmente.
São Paulo, dirigindo-se à comunidade de Éfeso, a qual ele tinha evangelizado, batizado e constituído Igreja, assim explica o que é na prática o renascer em Jesus Cristo: “Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma e revesti-vos do homem novo, criado a imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade.” (Ef 4, 22-23). Paulo, neste trecho de sua carta aos Efésios, se refere ao batismo que todos eles receberam, tirando-os do paganismo e transformando-os em cristãos.
O batismo é o nosso renascimento pela água que Jesus disse a Nicodemos. Quando somos batizados, nós renascemos da condição de criaturas naturais para a condição de filhos e filhas de Deus. Este é o primeiro passo de nosso constante renascer: começamos pela água e continuamos renascendo gradativamente pelo poder do Espírito Santo. Porém, este nosso renascer em Jesus Cristo não é automático e consequente do batismo. Não! Ele exige a nossa participação e a nossa adesão ao projeto de Deus e, muitas e muitas vezes, a nossa renúncia aos apelos do mundo e à nossa vontade humana, se ela estiver nos encaminhando na direção contrária a Deus.
Mas como se dá então este renascimento em Jesus Cristo?
São Paulo, objetivamente, mais uma vez nos esclarece: “Por isso, renunciai a mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros. Mesmo em cólera não pequeis. Não ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis lugar ao demônio. Quem era ladrão não torne a roubar, antes trabalhe seriamente por realizar o bem com suas próprias mãos, para ter com que socorrer os necessitados. Nenhuma palavra má saia de vossa boca, mas só a que for útil e benfazeja aos que ouvem. Não contristeis o Espírito Santo com o qual estais selados para o dia da redenção. Toda a amargura, ira, indignação, gritaria e calúnia sejam desterradas do meio de vós, bem como toda malícia. Antes sede uns com os outros bondosos e compassivos. Perdoai-vos uns aos outros como também Deus vos perdoou.” (Ef 4, 25 ao 32).
São Paulo aponta-nos de uma maneira prática o que é renascermos em Cristo, sugerindo-nos gestos concretos como: não mentirmos mais, sendo fiéis à verdade, em toda e qualquer circunstância; não nos odiarmos nem nos encolerizarmos por causa das coisas que saem contrárias à nossa vontade e nem guardarmos rancor contra as outras pessoas que nos incomodam. Estimula-nos a trabalhar honestamente, não roubando ninguém de alguma maneira, por menor que seja o nosso tipo de roubo: como, por exemplo, obter lucros exorbitantes em nossos negócios, negligenciar nossas tarefas prejudicando os nossos patrões ou ainda remunerar mal a quem nos presta serviços, entre outras atitudes desonestas; devemos extirpar toda palavra má de nossas bocas, como maldições, murmúrios, fofocas, intrigas, maledicências, palavras pessimistas, entre tantas outras coisas negativas que dizemos diariamente. Aconselha-nos a agir sempre movidos pela bondade e nos perdoando indistintamente da mesma maneira que Deus perdoa aos nossos constantes pecados. Isto e muitas outras coisas, irmãos e irmãs, é renascer em Cristo a cada Natal que celebramos!
São Paulo nos propõe um renascimento constante a partir de nós mesmos e nos dá Jesus Cristo como o nosso modelo e os Seus ensinamentos decodificados de uma forma prática e objetiva, como referenciais ou parâmetros.
O natal é um tempo propício a esta renovação que deveria ser diária
O Natal, com toda a sua mística religiosa, envolve a maioria das pessoas, fazendo com que o seus coração e sua mente se abram ou ao menos fiquem menos duros. Neste período, a bondade, a caridade, a solidariedade e tantos outros dons naturais em nós, criaturas humanas, que estão adormecidos ou mascarados pelo mal que grassa pelo mundo, se despertam nos abrindo para a graça de Deus penetrar em nossa vida, renovando-a.
O Natal é uma oportunidade para nos reconciliarmos com Deus, buscando-O pela oração e nos Sacramentos da Confissão e da Comunhão, e também com os irmãos dos quais estamos distanciados por causa de querelas, intrigas, fofocas, infidelidades e brigas no decorrer do ano, indo ao encontro deles, levando-lhes o perdão e humildemente também lhes pedindo o perdão. Por isso, a Igreja, de uma maneira sábia e milenar, repete a cada ano a celebração do Natal e o convite para renascermos a partir do Espírito Santo que vem em nosso auxílio nestes momentos.
Portanto, não deixe esta oportunidade passar; agarre-se a ela e renove-se interiormente. Não permita que o Natal passe mais uma vez em sua vida e você só se atenha aos presentes, à comida e à bebida que, depois de consumidos, irão para o esgoto, deixando de lado o menino Jesus que quer sair da manjedoura fria e sem vida para o seu coração vivo e aquecido de amor. Deixe Jesus nascer em seu coração neste Natal e permaneça com Ele por toda a sua vida porque a vida com Jesus é mais feliz… no Natal e em todos os demais dias de sua vida!