Escola de Bailado deixa sonho e não vai mais ao Festival Internacional
Nely Rossany, da Gazeta SP
Na Escola de Bailado de Taboão da Serra, na tarde de ontem, dezenas de mães mostravam sua indignação com a suspensão das aulas e com a falta de verba para levar as bailarinas para o Festival Internacional de Dança no México, onde foram escolhidas para representar o Mercosul. Depois de ser alvo de denúncias, a Secretaria de Cultura decidiu suspender as aulas e todos os outros serviços para apurar através de uma sindicância supostas irregularidades. Como consequencia, cerca de 4 mil alunos que freqüentavam o Liceu de Artes, a Escola de Bailado e outros locais que tinham parceria com a prefeitura estão fechados.
Só algumas turmas da Escola de Bailado estão tendo aulas por esforço da diretora da Escola, Sônia Almeida e de professores voluntários. “Só aqui são 320 alunos. Eu e mais três professores voluntários só estamos conseguindo atender 180 alunos, mas a situação está precária. Estou fazendo o que posso, priorizando aqueles que iriam se formar esse ano, mas as alunas iniciantes estão sem aula”.
Foto: Thiago Neme | Gazeta SP
sindicância, escola funciona precariamente com ajuda de voluntários
É o caso das netas da senhora Laura Maria da Rocha, que faziam aulas há pouco mais de cinco semanas. “Minha neta chora quase todos os dias dizendo que quer voltar. Infelizmente não tenho condições de pagar uma aula particular e estamos reféns dessa situação”, disse a avó referindo-se a neta Jéssica de apenas 10 anos.
A diretora Sônia disse ainda, que em dezembro vai fazer a formatura das alunas e espetáculo de dança sem recursos. “Não temos nem água, nem limpeza aqui. Os figurinos e o cenário estamos reciclando usando os dos anos anteriores e contando com a ajuda de mães para costurar e arrumar o que dá”, relatou.
Passaportes
A Escola de Bailado estava passando por uma fase de sucesso, participando de festivais e se destacando no cenário da dança. Em um dos últimos festivais que participou o ‘Gran Buenos Aires Danza’, na Argentina, a Escola ganhou 20 prêmios e foi indicada para representar o Mercado Comum do Sul (Mercosul) em Cancun, no México. E além dos prêmios, o corpo de bailado ganhou a estadia para o festival mexicano.
"Estávamos na expectativa de conseguirmos as passagens aéreas para irmos a Cancun, no México, dia 16 de novembro, chegamos até a tirar os passaportes e vistos, mas aí de repente tudo desabou”, lamentou Marta Maria Santos Silva, mãe da bailarina Rosana, 12 anos, que iria participar do Festival Internacional. “Fiquei muito decepcionada de não ir, porque era um sonho para mim”, afirmou a bailarina Rosana.
A tristeza também estava presente no rosto de Adriana Togni, mãe de Julia de 11 anos. “Coloquei muita expectativa nessa Escola, o balé era tudo para minha filha. A Escola era excelente, se você for pagar por aí não sai por menos de R$ 450 por mês um curso de dança. Não foram só os nossos filhos prejudicados, mas tem muitas mães revoltadas com o fim dos cursos também de música e arte. O pior é que não sabemos quando vai voltar e nem se vai voltar” , falou emocionada Adriana.
Sindicância
Desde o dia 29 de setembro, os alunos estão sem aulas, por conta da abertura de uma sindicância interna para apurar as denúncias de contratos ilegais e notas frias, apontadas pela investigação da Polícia Civil. No início as aulas focariam suspensas por somente 30 dias, mas o prazo foi prorrogado por mais 30 dias, devendo se encerra no dia 29 deste mês.
Relatório da Polícia Civil apontava o desvio de cerca de R$ 2 milhões da Secretaria, mas de acordo com a Prefeitura, a sindicância ainda não apontou irregularidades. Em nota, a Assessoria de Imprensa informou que como em 30 dias não foi possível escutar todas as pessoas e o prazo foi ampliado.
Ainda de acordo com a Prefeitura, não há previsão de volta às aulas. “A vice-prefeita e secretária de Cultura, Professora Márcia, espera que a sindicância seja encerrada o quanto antes, para que as atividades desenvolvidas pela Secretaria sejam retomadas ainda em 2011”, informou.