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El Quixote
3 min de leitura
Não somos poeira, somos magia!
Feche os olhos e siga sua intuição.
Richard Bach
Feche os olhos e siga sua intuição.
Richard Bach
Assim como suas personagens, Sérgio Vaz foi parido longe das grandes capitais, em meio a um cataclismo no interior de Minas Gerais, um lugar que só não foi esquecido porque nunca foi lembrado, nem mencionado, nem citado e nem anotado em nenhum mapa. De identidade miserável, junto de sua família juntou seus trapos e ainda moleque seguiu o caminho que o destino desastroso insistia em lhe empurrar goela abaixo.
Menino de pé no chão, literalmente, educação escassa e parca, foi se esconder onde começava a se desenhar, há muitos anos, a triste colônia que hoje em dia os sociólogos imprudentes insistem em chamar de periferia. O gueto, o lugar cinza e poeirento onde a "escória" da sociedade consumista é empurrada pelos poucos ricos, foi sua escola e mais tarde sua faculdade.
Foto: Eduardo Toledo | Arquivo do Portal O Taboanense

Poeta Sérgio Vaz, desafiando o que a vida quer impor com verdade
Cresceu como pôde. Na malandragem imperativa da vida periférica se salvou de maiores arranhões fazendo amizades, batendo bola e batendo cabeça. Boleiro, não tinha pivete que jogasse melhor "lá atrás" e ninguém subia driblando como ele. Feio, desengonçado, migrante, quase nordestino, quase preto, quase fodido, quase sem oportunidades e quase sem educação, tinha seu rosto preparado para receber o carimbo de fracassado que a "classe mídia" tem guardado no bolso do paletó.
Talvez tenha sido bem aí, pouco antes de receber a carimbada fatal, que Sérgio Vaz sacolejou e caiu da cama. E, olhando aquele mundo injusto com olhos arregalados de espanto, ele prometeu pra si mesmo que iria fazer, ainda nesta vida, a sua revolução. Bunda mole, preferiu deixar as armas de lado e militou através das palavras. Fez da poesia sua trincheira e da sensibilidade seu canhão.
E quem olhava aquele moleque de pernas tortas, trazido do intestino de Minas Gerais, e imaginava que só desgosto iria dar, Sérgio Vaz subverteu todas as expectativas e, no peito, publicou, do seu jeito, cinco livros e anda de cabelo em pé preparando o sexto. Entre as poucas qualidades que superam seus muitos defeitos, está a de ser sonhador. Sérgio tem a qualidade única de enxergar o invisível, o que é fundamental para realizar o impossível.
Sérgio Vaz é a prova que se deve ter coragem de ousar. Fugir do normal, do óbvio. É necessário ser um pêndulo que vai de um extremo ao outro com a mesma precisão. Sérgio Vaz é prova que nem sempre os boçais vencem, nem sempre devemos aceitar um destino que parece permear por gerações e vistos com olhos humanos se mostra imutável. A vida desse Quixote é a prova definitiva que a realidade pode não ser como queremos, mas nosso mundo é como o fazemos.