Armando Andrade conta causos de um Taboão antigo

• Na década de 60, quando a cidade iniciou sua trajetória independente, seu centro nervoso era o Largo do Taboão. A Celeste – única padaria existente da cidade, naquele tempo – e o Bar do Souto localizado ao lado serviam de palco para os encontros de amigos, esportistas e políticos. Nasciam ali muitos acontecimentos ou boatos e, às vezes, até noticias verdadeiras, que com a velocidade de um rastilho de pólvora se espalhavam por todos os lados.

Germano Correia de Miranda, de nacionalidade portuguesa, um dos sócios da Padaria, num dos períodos de funcionamento cuidava do caixa e dali comandava o trabalho de todos. Como naquela época não existia computador e nem mesmo ficha de clientes era comum, enquanto os fregueses se dirigiam ao caixa para pagar, os atendentes gritarem o que os mesmos haviam consumido e ele, somando de cabeça já ter o valor do consumo, sem a necessidade de auxilio de um lápis ou de uma calculadora. Muitas vezes os mais desconfiados pediam que as mercadorias fossem somadas uma a uma, mas nunca eram encontrados erros, o que fazia que dia a dia a confiança no Germano aumentasse.

Como ele permanecia diariamente naquele período fazia muitas amizades e era comum alguns amigos pararem para jogar conversa fora. Eram as brincadeiras sobre a sua querida Portuguesa do Canindé, acompanhada por ele religiosamente; as piadas de português; os acontecimentos políticos e suas histórias sobre a “terrinha”.

Mas, o mais curioso era a sua mania de apostar em tudo, o que, diga-se de passagem, seus amigos e clientes adoravam. Apostava se ia chover, se o próximo cliente seria homem ou mulher, criança ou adulto; apostavam na cor ou no número da chapa do primeiro veículo que iria parar na porta da padaria, no resultado dos jogos de futebol do fim de semana, enfim, apostava em tudo. Geralmente os prêmios eram caixas de cerveja ou vinho português Casal Garcia. Ele mantinha uma considerável legião de apostadores, que na maioria das vezes saiam perdendo.

Na Copa do Mundo de Futebol realizada na Inglaterra em 1966, quando a equipe da casa sagrou-se campeã. Ao sair a tabela dos jogos, eu e alguns amigos de trabalho, organizamos um concurso de palpites para todas as disputas programadas até a finalíssima. Mais de cem pessoas participaram. E não é que o Germano ganhou!

• Onde hoje está sendo erigido o maior condomínio vertical da cidade pela Cooperativa Habitacional Vida Nova, antes foi a imensa Chácara Belair, local em que seu proprietário Bruno Hollnagel, mantinha sua bela casa, um magnífico campo de golfe, uma hípica, onde com amigos passava seus dias. Já com mais de sessenta anos, Bruno, por ser um apaixonado pelo mar, no escritório de sua casa mantinha livros e cartas de navegação, não abrindo mão de ser comandante do seu iate com o qual já atravessara o mundo. Mas não era essa sua única paixão.

Como sua esposa gostava muito de música clássica, mandou instalar em sua residência um gigantesco órgão de fazer inveja para muitas catedrais, especialmente para trazer concertistas internacionais que se apresentavam exclusivamente para sua amada e alguns poucos convidados, rigorosamente selecionados.
 

Fotos: Arquivo pessoal | Armando Andrade