A Arte Parlamentar de gastar dinheiro público despreocupadamente
4 min de leitura
Por Dr. Antônio Rodrigues
O Congresso Nacional tem se superado na arte de transformar o Orçamento Público num balcão de negócios onde criar ou renovar privilégios às custas do Erário assegura a perpetuação de carreiras políticas.
De fato, independentemente do partido que esteja à frente do Poder Executivo, desde a redemocratização este atua como coadjuvante no jogo com as regras definidas por um Poder Legislativo sempre pronto a alterá-las e virar a mesa quando lhe convenha.
A situação se agravou, no entanto, desde 2015, quando as Emendas Parlamentares se tornaram “impositivas”, isto é, de execução obrigatória. A partir daí, deputados e senadores passaram a controlar fatias cada vez maiores do Orçamento: em 2014, eram R$ 6,1 bilhões em emendas; em 2025, saltaram para R$ 50 bilhões (aumento de mais de 700%).
Em 2019, para impedir a transparência dos recursos destinados por emendas individuais, o Congresso criou um sistema que esconde os nomes dos parlamentares, deixando registrado apenas o nome do Relator da Comissão de Orçamento, criando assim o chamado “orçamento secreto”.
Entre 2021 e 2022, o Governo Federal destinou bilhões de reais para essas emendas de relator e, embora elas tenham sido formalmente banidas pelo STF em 2022, o “orçamento secreto” ressurgiu sob novos nomes, como as "emendas Pix" (RP6), que permitem repasses sem rastreabilidade, ou seja, sem a possibilidade de acompanhamento adequado do histórico de liberação, de destinação e aplicação dos recursos públicos.
E por que este tipo de apropriação do orçamento pelo Congresso é prejudicial?
É que ao abocanhar fatias cada vez maiores do orçamento, individualmente ou por meio das bancadas partidárias, os parlamentares prejudicam seriamente ou até mesmo inviabilizam o planejamento e a execução das políticas públicas e dos programas governamentais apresentados ao eleitorado nas eleições para a Chefia do Executivo.
Além disso, os parlamentares não têm responsabilidade administrativa ou de governo, ou seja, se os recursos públicos são bem ou mal aplicados, não é problema deles...
Assim, ao mesmo tempo em que pressiona os Governos para equilibrarem as contas públicas e reduzir tributos, o Legislativo irriga suas bases eleitorais com mais e mais dinheiro público, sem qualquer critério técnico ou transparência.
Neste mês de junho/25, a atuação nociva do Congresso ficou escancarada: enquanto derrubava o Decreto presidencial que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras — inviabilizando a proposta para equilibrar as contas públicas com a estimativa de aumento de R$ 10 bilhões na arrecadação —, o Congresso criava, no mesmo dia, mais 18 novas cadeiras de deputados federais.
O argumento para o aumento dos deputados foi a "redistribuição justa com base no Censo de 2024", porém, na prática, a medida cria, além de 18 novos mandatos, mais cargos, mais verbas de gabinete, mais auxílios etc., aumentando o custeio da Câmara em R$ 4 bilhões por Legislatura.
É um paradoxo: o Congresso exige austeridade fiscal do Executivo, mas aumenta seus gastos; critica a carga tributária, mas bloqueia reformas que onerariam os mais ricos e desoneraria a classe média e os pobres; fala em moralidade, mas perpetua práticas como o “orçamento secreto”. Enquanto isso, o Poder Executivo assiste, cada vez mais enfraquecido, à escalada de um Legislativo que não governa — mas manda.
E outro paradoxo: boa parte da sociedade rejeita os privilégios e acusa as distorções do sistema político, mas vota para perpetuar mandatos reelegendo sistematicamente os mesmos políticos profissionais a cada eleição parlamentar...
TAGS
Antônio Rodrigues
Austeridade Fiscal
Câmara dos Deputados
Congresso Nacional
Corrupção Política
Dinheiro Público
Emendas Impositivas
Emendas Parlamentares
Gastos Públicos
Legislativo Federal
Opinião
Orçamento Público
Orçamento Secreto
Poder Legislativo
Políticas Públicas
Privilégios Políticos
Reforma Política
Transparência Orçamentária
Notícias relacionadas
Taboão da Serra
Reformas dos parques avançam: vereador Anderson Nóbrega garante R$ 10 milhões para obras em 2026
17/11/2025