Perguntar não ofende
Outro dia estava no salão de cabeleireiro e escutei de uma moça com um pouco mais de 20 anos, casada e com 2 filhos, que queria ter a oportunidade de encontrar aquela mulher que rasgou o sutiã em praça pública para pedir direitos iguais entre homens e mulheres. “Ela não tinha noção do mal que estava fazendo para nós mulheres do século 21. Trabalhar fora, estudar, cuidar de filho, de marido, fazer comida”, gritava indignada.
Pensei: esta moça não tem noção da barbaridade que está falando. Se hoje as mulheres podem trabalhar fora, estudar, votar, criticar o governo, casar e separar, ser livre para andar sozinha na rua, assumir sua sexualidade, escolher ou não ter filhos é graças àquele movimento.
Estas coisas consideradas banais pela personagem deste artigo foram conquistadas às custas do sangue e suor de muitas mulheres. Eu, como a menina do cabeleireiro, às vezes me sinto cansada e pressionada com tantas responsabilidades. Também penso em tirar o pé do acelerador e abrir mão de algumas tarefas. Mas será que a minha vida vai melhorar se eu parar de trabalhar ou abrir mão de uma segunda maternidade para ter mais tempo para mim?
Sinceramente, não sei. O que sei e posso falar é que muitas vezes achamos que o problema está no mundo lá fora e o problema está com a gente mesmo. Acho que é hora de paramos para avaliar o que realmente nos faz feliz. Sinto que as mulheres passam a vida inteira tentando agradar os outros e se esquecem de se agradar um pouquinho.
Culpar as feministas que lutaram por nós para chegar até aqui não é a melhor saída. Acredito que temos que encontrar nosso ritmo, rever nossas prioridades, e nos programarmos para viver mais e melhor. Sem esquecer que a luta feminista é legitima e não pode parar. Tenho muito medo destes conflitos que passamos hoje. Pressionadas pelo trabalho e por este monte de tarefas, as jovens mulheres podem esquecer o quão trabalhoso foi chegar até aqui. E vocês o que pensam disso? E os homens concordam com as reclamações de nossas contemporâneas?