Home
›
Lei antifumo muda hábitos em bares de Taboão da Serra
6 min de leitura
• Siga o Portal O Taboanense no Instagram, no Youtube e no X e fique por dentro de tudo que acontece na nossa
cidade
A lei antifumo do Governo está em prática em todo o Estado desde o dia último dia 7. Com a proibição do cigarro em locais fechados, muitos taboanenses estão mudando seus hábitos. Os comerciantes também buscam alternativas para não perderem clientes e já pensam em soluções alternativas para continuar lucrando com a fumaça alheia.
Apesar do frio de quase 13ºC que fazia na cidade, Leandro, Marco e Fábio, três amigos que estudaram juntos na FTS, resolveram se encontrar depois de quase seis meses para colocar a conversa em dia. Era a primeira vez que os colegas iam a um bar depois que a lei antifumo começou a vigorar.
No reformado Bar da Praça, em frente ao Cemur, os amigos se revezavam na mesa para poder dar umas tragadas do lado de fora. Até que um deles sugeriu: “vamos colocar a mesa ao lado da calçada” e assim foi durante toda a noite. Um rodízio interminável em busca da nicotina. “Até acho que a lei está certa, mas em um lugar arejado como esse, não vejo porque da lei proibir. Tem que ser mais flexível”, disse Leandro, 26 anos, morador de Botucatu.
Foto: Eduardo Toledo
Mudança de hábito: cigarrinho só do lado de fora
Para Renato Alexandre da Cruz, proprietário do bar, a lei é correta, mas ele discorda da punição. “Tem que multar quem está fumando, punir quem não respeita a lei. O comerciante não tem nada com isso, eu não tenho poder de proibir ninguém”, argumenta. Segundo ele, um cliente antigo tentou fumar no balcão, ao ser repreendido se levantou e foi embora. “Nunca mais ele voltou aqui”, lamenta.
Na padaria La Ville o drama é maior ainda. A casa trabalha com comandas, o que impede do cliente sair da mesa para fumar do lado de fora. “Depois da lei tivemos uma queda de 30% no movimento da noite”, diz Carlos Alberto, proprietário do local, que diz estar estudando alternativas para trazer os clientes de volta.
Uma das possibilidades que estão sendo estudadas por diversos comerciantes é descobrir algumas áreas para se enquadrar na lei. “Durante o inverno é complicado, mas para o verão eu já penso em deixar uma área livre, sem nada, para os fumantes”, diz João Carlos, dono de um bar na cidade Intercap.
Se por um lado fumantes e comerciantes reclamam da lei, por outro os não fumantes e o Governo festejam. Poucas semanas antes de a lei antifumo entrar em vigor, uma pesquisa realizada pela Secretaria da Saúde com 50 garçons e clientes em casas noturnas de São Paulo revelou que bastava uma noite em um ambiente fechado para que um não-fumante atingisse níveis de monóxido de carbono no pulmão equivalentes aos de fumantes; por vezes, o índice chegava a atingir níveis de fumantes pesados. Uma semana depois da chegada da lei, os pesquisadores voltaram aos locais, testaram 30 não-fumantes, e constataram uma mudança radical. Para melhor.
“Eu odeio cigarro, sair para curtit uma balada, um barzinho, está muito mais legal, mais saudável. Antes você chegava em casa com a roupa e o cabelo fedendo a cigarro, agora não, é mais tranquilo”, comemora Ana Lúcia, vendedora de 28 anos, moradora do Pq. Assunção. A exposição eventual, mas aguda, à poluição tabagística ambiental (PTA), como ocorria no caso dos clientes antes da lei, ocasiona danos ao organismo tais como irritação nasal, ocular, dores de cabeça e secura na garganta.
Fiscalização
Apesar do temor dos comerciantes, a fiscalização em Taboão da Serra ainda é falha, para não dizer inexistente. Em todos os bares que a reportagem do Portal O Taboanense percorreu, em nenhum deles os fiscais haviam realizado blitzes. “Eu estou pronto, coloquei os cartazes, tirei todos os cinzeiros e estou abordando todos os clientes para avisar da lei”, diz Renato Alexandre.
O único proprietário de estabelecimento da cidade que recebeu a visita de fiscais foi a La Ville, mas antes da lei entrar em vigor. “Eles vieram aqui, deram algumas instruções e não voltaram mais”, garante Carlos Alberto. Segundo ele, em outra oportunidade, na semana passada, duas pessoas foram na padaria e ficaram só observado. “Desconfio que eram fiscais, estavam sem o colete, mas não falaram nada, até porque ninguém está fumando aqui”.
Foto: Eduardo Toledo
Renato Alexandre, dono do Bar da Praça: "aqui ninguém acende nada"
Para alguns clientes, principalmente os fumantes, a fiscalização na cidade “é uma piada”. Bruno Siqueira, 19, morador do Pirajuçara, chega a ironizar: “essa lei é pra pegar bar de playboy, quero ver a fiscalização vir em uma birosca aqui da periferia, esses caras são muito hipócritas”.
Apesar do pensamento de Bruno, a lei vale para todos os bares, restaurantes e locais fechados de uso coletivo. As denúncias podem ser feitas inclusive pelo telefone 0800 771 3541. Segundo o Governo do Estado, 500 técnicos, da Vigilância Sanitária e do Procon, constituem um grupo de “elite” que realizará jornadas extras para verificar se os estabelecimentos estão, de fato, livres da poluição causada pela fumaça do cigarro. Esses agentes especiais estão recebendo treinamento adequado e terão gratificações extras para realizar a fiscalização, definida em seis horas diárias, incluindo sábados, domingos e feriados.