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A Poesia do cárcere
3 min de leitura
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cidade
"A Pipa é o pássaro de papel.
Está longe da gaiola, Mas tem a liberdade vigiada Pela linha do carretel."
Hoje aconteceu o sarau na Fundação Casa UI – Paulista, no bairro de Vila Maria, e mais uma vez foi uma tarde emocionante, e quando digo que a poesia atravessou os muros, eu não estou brincando, o bagulho é sério.
Fizemos um círculo numa sombra na beira da quadra, e comecei o recital falando um pouco sobre o meu trabalho, coisa e tal, e li alguns poemas, aos poucos fui chamando meus convidados para pularem comigo o arame farpado.
O Michel do Elo da Corrente, Jairo do Periafricania, o Panikinho, libertaram seus versos pelo pátio, e até o Rodrigo que é o coordenador do projeto também leu alguns poemas. Quase ninguém ficou impune.
No começo eles estavam meios tímidos, ou quem sabe, respeitando a palavra da visita (visita é mais do que sagrada), mas aos poucos foram entrando na sintonia poética do momento e começaram a recitar poemas de autoria própria, ou dos livros que eu levei, e de repente, a molecada desembestou a falar.
Rolou um puta clima bom, apesar do lugar não ser o ideal, mas…
Queria agradecer a Regiane pelo convite e pela recepção. Até a Elaine que coordenadora da Fundação casa Abaeté apareceu para curtir o sarau, e para avisar que sem ser nesta próxima segunda-feira, mas na outra (15 de fevereiro), eles vão fazer um sarau nos módulos I e II, e eu sou um dos convidados, você acha que eu vou? Quer ir comigo ver o milagre da poesia?
Sei que é pouco, porém, a poesia é a única coisa que eu tenho pra doar, em compensação, a poesia que tenho, é a coisa que eu mais amo na vida. Espero que sirva para alguma coisa.
Tô ligado que o preconceito é brutal, e que eles cometeram crimes, mas a gente ali, entre poemas e sorrisos, fiquei pensando que a gente poderia estar fazendo isso numa escola de qualidade, não entre grades.
Não são inocentes, sei disso, mas também não são culpados sozinhos.
O Estado comete os piores crimes com os jovens da periferia, que é o furto da melhor época de nossas vidas: a infância e a adolescência. Mas quem quer algemar o Estado por isso ?
A Sociedade não pode ser sócia do estado, conivência também é crime.
Não me interesso muito em saber porque eles foram parar ali, são sempre as mesmas histórias, mas principalmente em saber o que farão quando forem cuspidos de lá.
Não adianta gastar saliva em punição, sem uma boa educação, ninguém pode se sentir livre nas ruas. Nem eles, nem nós.
O Estado brasileiro já passou da hora de ser tratado como criança.