Moradoras de Taboão são as primeiras guincheiras do Brasil
Quatro mulheres moradoras de Taboão da Serra são pioneiras no País em uma atividade tipicamente masculina. Elas são guincheiras, ou seja, operam o guincho na construção de apartamentos. Todas foram treinadas no canteiro de obra da Cooperativa Habitacional Vida Nova e apesar do pouco de tempo de atuação já se destacam como exemplos de seriedade e profissionalismo. As pioneiras venceram o preconceito e conquistaram o respeito dos homens com quem trabalham diretamente, dos encarregados e até dos diretores.
O bom desempenho delas numa atividade até pouquíssimo tempo restrita aos homens comprova que as diferenças entre os sexos não impedem a inserção feminina em outros campos de trabalho. Prova disso, é que após dominar a atividade e se sobressair na sua execução, algumas das guincheiras já planejam se aventurar em atividades mais perigosas e, portanto, ainda mais “masculinas”, como pintar a fachada externa dos prédios construídos pela Cooperativa.
Aos 29 anos Maria Aparecida da Silva, a Cida, natural de Pernambuco, se orgulha de executar uma função importante dentro da obra. Há 1 ano e três meses, ela que nunca havia entrado num canteiro de obras trabalha como guincheira. No começo, admite Cida, houve uma certa resistência a presença dela no ambiente predominantemente masculino. “Agora eles gostam de trabalhar com a gente. Acham que temos mais paciência, confiam na gente”, admite satisfeita.
Na pequena cabine de onde ela opera o equipamento vários objetos denunciam a presença de uma mulher no local. O espelho, batons, perfume, jarro de flores e outros objetos decoram o pequeno espaço e chamam a atenção no ambiente dominado pelo concreto.
Cida e as outras guincheiras foram treinadas no próprio canteiro de obras, pelo encarregado José Araci da Silva, 28 anos, natural da cidade de Minador do Negrão em Alagoas. Ele destaca que elas aprenderam rápido a atividade, apesar dele mesmo ter achado no começo que idéia não era boa. “Eu era duro com elas dizia que só ia ensinar uma vez, mas elas pegaram bem. Deu tão certo que a gente até pensou em só ter mulher trabalhando no guincho”, admite.
A alagoana Maria Cidália, 45, fala do orgulho que sente em saber que é uma pioneira no País. Ela conta que agradece a Deus por ter feito o treinamento e ter dado tudo certo. “ É uma responsabilidade grande. Tem que prestar atenção no vídeo para fazer a entrega direito. A gente leva pessoas e material numa altura de até 79 metros. Tem que ter coragem e muita responsabilidade”, explica, acrescentando que gosta muito do que faz.
Agora, a guincheira sonha em realizar uma atividade ainda mais desafiante: fazer pintura externa na fachada dos prédios. “O que eu quero é poder dizer: eu pintei esse prédio. Tenho fé em Deus que vai aparecer alguém para me treinar”, salienta.
Mas, se depender do encarregado que treinou as guincheiras o sonho de dona Maria Cidalia vai demorar a se concretizar, pois ele mesmo admite que tem medo de realizar a tarefa. “Essa tem coragem demais”, dispara, deixando claro que não poderá ajudá-la a concretizar o seu atual sonho.