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Analice Fernandes: como tecer as redes de proteção

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Redação

07/06/2016 00:00
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Publicado no Blog da Analice

Na semana passada, fomos pegos de surpresa com a notícia sobre a perseguição e morte de uma criança de 10 anos, na região do Morumbi. Surpresa porque a história me parecia completamente irreal e pouco provável.
Como duas crianças, Ítalo, de 10 anos, e outro menino de 11, poderiam ter furtado um carro e sair dirigindo pelas ruas em alta velocidade?

Tudo acabou da pior forma possível, com a morte do menor.

E agora, toda a discussão recai sobre a ação policial, que é claro, precisa ser investigada e colocada às claras.

Deputada Analice Fernandes durante discurso na Assembleia Legislativa | Divulgação

Porém, a ação policial é só a ponta do iceberg. O que toda a sociedade precisa discutir é como a situação chegou a este ponto. E esta sim é uma situação complexa. Ficou demonstrado com cores tristes que para Ítalo e para seu amigo a rede de proteção do Estado não existiu.

Ítalo foi criado em uma família com casos de violência, o pai está preso por tráfico de drogas, a mãe passou tempos presa por furto e roubo, sendo que o menino neste período teve que contar com o apoio de parentes.
Agora vivendo com a mãe, sua casa no Morro do Piolho, comunidade no Brooklin, pegou fogo por duas vezes.

Com 10 anos, ele estava no segundo ano do ensino fundamental – frequentado por crianças de 7 anos. Era visto na sua comunidade sempre sujo, maltrapilho e faminto.

Só este ano, Ítalo foi parar na Delegacia de Polícia por tentativa de furto e roubo pelo menos três vezes, passou pelo Conselho Tutelar e por um Internato, de onde fugiu.

Ou seja, a família, a sociedade, a escola, o governo e porque não dizer o Estado Brasileiro foram incapazes de socorrer Ítalo. De dar a este menino, o mínimo de atenção, de amor, de cidadania, de paz.
Ítalo morreu com uma bala na cabeça disparada por um policial – mas eu acredito que independente de ter sido em legítima defesa ou não – todos nós disparamos esse gatilho.

Quando passamos ao lado de dezenas e centenas de meninos e meninas que perambulam pela cidade de São Paulo – e não somos capazes de promover um socorro eficiente para estas crianças – estamos compactuando com a criminalidade, com o abandono e atestando nossa incapacidade de cuidar do nosso futuro.

Nós temos o Estatuto da Criança e do Adolescente, temos estruturados os Conselhos Tutelares – mas precisamos atuar sem trégua para tirar as crianças das ruas de São Paulo.

A sociedade tem que se empenhar, tem que cobrar das autoridades, buscar ajuda nos Conselhos Tutelares, enfim não podemos nos conformar com este estado de coisas.  As redes de proteção têm que funcionar.

Não é possível que a cidade mais rica da América Latina seja incapaz de cuidar de seus menores abandonados. Porque eles estão abandonados à própria sorte.

Culpar a polícia é o caminho mais fácil – difícil é cuidarmos dos Ítalos que estão por ai, para que eles não se tornem caso de polícia.


Deputada Analice Fernandes é enfermeira e está em seu 4º mandato.

 

 

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