Justiça ouve réus da Cleptocracia e sentença sairá em dezembro
A Justiça de Taboão da Serra ouviu nesta quarta-feira, dia 13, os 26 réus da Operação Cleptocracia. As oitivas começaram às 9h e se estenderam durante todo o dia, o último réu foi ouvido por volta das 22h30. O juiz da Vara Criminal, Guilherme Alves Lopes Lamas, marcou para o dia 16 de dezembro a publicação da sentença.
Em maio deste ano, em entrevista ao Portal O Taboanense, o juiz Guilherme Lamas havia dito que esperava finalizar o processo após as oitivas dos réus do caso. “Nosso objetivo é, dentro do possível e resguardado todas as garantias das partes, sentenciar esse processo até o final deste ano”.
Na longa audiência desta quarta-feira, os 26 réus puderam expor as suas versões para as denúncias de corrupção na Dívida Ativa da prefeitura de Taboão da Serra. O depoimento mais esperado foi o de Márcio Carra, preso em flagrante e acusado de realizar baixas indevidas no IPTU por troca de propina.
Márcio Carra teria negado todas as acusações contra os outros réus e disse que quando foi preso, acabou culpando outras pessoas porque foi pressionado pela Polícia Civil logo após a sua prisão. O depoimento de Carra pode mudar o resultado do julgamento, já que essa foi a primeira vez que ele falou sobre o caso na justiça.
Outros réus também acusaram a Polícia Civil de ter abusado de poder. Celso Vasconcelos disse que foi ameaçado pelo então investigador chefe, que conduziu o inquérito, Ivan Jerônimo. “Essas acusações não são verdadeiras, o Ivan usou do seu poder porque queria entrar para a política, tudo isso foi uma jogada política”, disse Celsinho.
Os interrogatórios dos 26 réus foi a última fase do julgamento que teve início em agosto de 2011. Já foram ouvidos os policiais que fizeram a investigação, as testemunhas de acusação e as testemunhas de defesa.
A sentença é aguardada com grande expectativa principalmente pela grande repercussão que o caso alcançou. O escândalo que chocou Taboão da Serra começou no dia 18 de março de 2011, quando o ex-funcionário da prefeitura, Márcio Renato Carra, foi preso em flagrante pela GCM enquanto ele burlava o sistema da Dívida Ativa em troca de supostas propinas. O caso passou para as mãos da Seccional, que conduziu todos os trabalhos de investigação em sigilo.
A Operação Cleptocracia, expressão grega que significa “Estado governado por ladrões”, foi batizada e conduzida pelo então chefe dos investigadores da Seccional de Taboão da Serra, Ivan Jerônimo e pelo delegado Raul Godoy Neto. O primeiro relatório divulgado no dia 3 de maio de 2011 pediu a prisão preventiva de 14 acusados, entre eles três vereadores.
A Câmara Municipal abriu uma CPI para investigar as denúncias e irregularidades no sistema de Dívida Ativa da prefeitura de Taboão da Serra. O meio político ferveu durante a comissão que realizou dezenas de oitivas e diligências. Paralelo a toda movimentação, a polícia seguia a sua investigação.
No dia 6 de junho de 2011, outras 12 pessoas, entre eles secretários do ex-prefeito Evilásio Farias também foram presos. A cidade viveu momentos de tensão, protestos contra a corrupção tomaram conta das ruas e até mesmo um pedido de impeachment do então prefeito Evilásio foi encaminhado para a Câmara por movimentos populares. A proposta não prosperou e nem mesmo entrou em votação.
Em agosto de 2011 teve início o julgamento dos 26 réus. A juíza Flávia Castelari iniciou os trabalhos ouvindo as testemunhas de acusação. Em janeiro de 2012 as audiências foram suspensas. A justiça atendeu a um pedido dos advogados do ex-secretário de Governo, Luiz Antonio de Lima, sob a alegação de suposta falta de documentos nos auto.
Uma reviravolta aconteceu no dia 8 de março de 2012. O investigador-chefe e principal personagem de toda a investigação, Ivan Jerônimo, cometeu suicídio, se matando com um tiro no peito, em um banheiro de um café, na Cidade Jardim, em São Paulo.
Em abril de 2012 o juiz Guilherme Alves Lopes Lamas foi designado pelo Tribunal de Justiça para substituir a juíza Flávia Castellari, que foi promovida e transferida de Taboão da Serra. Desde então todas as testemunhas foram ouvidas novamente e agora, quase três anos depois, o julgamento ainda continua no fórum de Taboão da Serra.